a Liberdade está a passar por aqui
Um homem desce a rua com um cartaz cabisbaixo.
Anda com o jeito desajeitado da primeira vez.
Cartaz simples, aliás. Rápido de fazer: uma tábua castanho clara pregada a um pau de metro e picos.
Com tinta encarnada escreveu, em minusculas, a palavra liberdade.
Lembra-se bem do preço a pagar para chegar a este momento.
Anos. Meses. Reuniões à porta fechada e fugas à pide, vizinhos que os denunciavam,
familiares desaparecidos.
São imagens de outras brutalidades que teimam em cair no som dos seus passos.
Raio de pensamentos sombrios, medos de guerra em tempo de paz.
Jamais esquecidos: serão contados aos filhos e aos filhos dos filhos.
Serão histórias de outro tempo, do tempo em que não havia liberdade.
Do seu tempo. Do tempo de agora.
Terão banda sonora com violas, e cravos na lapela.
Mais gente pela rua, olhares desconfiados - Foi desta? -
Apressa o passo. Por pouco está atrasado.
Era o que faltava, mesmo. A liberdade atrasada!
4 Comments:
Belo conto.
11:55 da manhã
Espero que este seja o segundo passo de muitos.
4:00 da tarde
É impressão minha ou isto até podia ser publicado!
Já estou a ver... "Os contos do Conde"!
Não parece, mas estou a falar a sério.
5:50 da tarde
Conde tu estás lá. E nós estamos cá. A ver. E queremos de camarote quando estiveres tão lá que toda a gente vai querer-te cá. Assim seja.
8:33 da tarde
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