Blogue de gente de verbo fácil e língua afiada como uma espada de hara-kiri. Alimentado por: Conde, DeNunes, Dulcineia, Edgarganta, Gaja do Teatro, Goretti, Grace Kelly, Jaimemorto, Mousezinger, Romero, Stôra e Toni Ciganita

terça-feira, abril 26, 2005

a Liberdade está a passar por aqui

Um homem desce a rua com um cartaz cabisbaixo.
Anda com o jeito desajeitado da primeira vez.
Cartaz simples, aliás. Rápido de fazer: uma tábua castanho clara pregada a um pau de metro e picos.
Com tinta encarnada escreveu, em minusculas, a palavra liberdade.
Lembra-se bem do preço a pagar para chegar a este momento.
Anos. Meses. Reuniões à porta fechada e fugas à pide, vizinhos que os denunciavam,
familiares desaparecidos.
São imagens de outras brutalidades que teimam em cair no som dos seus passos.
Raio de pensamentos sombrios, medos de guerra em tempo de paz.
Jamais esquecidos: serão contados aos filhos e aos filhos dos filhos.
Serão histórias de outro tempo, do tempo em que não havia liberdade.
Do seu tempo. Do tempo de agora.
Terão banda sonora com violas, e cravos na lapela.
Mais gente pela rua, olhares desconfiados - Foi desta? -
Apressa o passo. Por pouco está atrasado.
Era o que faltava, mesmo. A liberdade atrasada!

4 Comments:

Blogger Ricardo Machado said...

Belo conto.

11:55 da manhã

 
Blogger Joana said...

Espero que este seja o segundo passo de muitos.

4:00 da tarde

 
Blogger Unknown said...

É impressão minha ou isto até podia ser publicado!
Já estou a ver... "Os contos do Conde"!
Não parece, mas estou a falar a sério.

5:50 da tarde

 
Blogger pedro vieira said...

Conde tu estás lá. E nós estamos cá. A ver. E queremos de camarote quando estiveres tão lá que toda a gente vai querer-te cá. Assim seja.

8:33 da tarde

 

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