Blogue de gente de verbo fácil e língua afiada como uma espada de hara-kiri. Alimentado por: Conde, DeNunes, Dulcineia, Edgarganta, Gaja do Teatro, Goretti, Grace Kelly, Jaimemorto, Mousezinger, Romero, Stôra e Toni Ciganita

sexta-feira, novembro 17, 2006

É urgente...

Até certa medida é natural que um adolescente prefira um furo a uma aula.

Aceito isso, percebo isso.

Ainda assim acho que apesar de lhes apetecer mais ficar no café à conversa com os amigos porque - que sorte! - faltou o professor de história, tenho a certeza de que a maioria, no seu intímo, sabe que ter aulas é bom (mesmo e até as aulas de substiutição) e tem sonhos e ambições para o futuro e até sabe que a educação é o principal instrumento que tem para lá chegar.

Ou pelo menos era o que eu pensava...

Como é que vão para a rua dizer não às aulas de substituição?!

Será que é por sentirem que faltam ideais pelos quais se possam manifestar?

Exigir não ter aulas é o triunfo da mediocridade. Os nossos jovens deviam exigir mais e não menos. Deviam querer lutar por um mundo mais justo, com igualdade de oportunidades - o que passa evidentemente por um um ensino público excelente.

O que é que nós lhes estamos a ensinar?! A dizer mal por dizer mal?! A dizer mal porque é o estado que faz, o governo que diz, a ministra que manda?! Devíamos ensiná-los a serem críticos, sim, mas críticos inteligentes, capazes de perceber o que é que faz falta neste mundo, o que é lhes faz falta a eles. Críticos altruístas, com vontade de ver nascer um mundo melhor, críticos com esperança de que outra maneira de fazer as coisas é possível, críticos exigentes também com eles próprios, com vontade de fazer coisas, de saber mais, de chegar mais longe...

Eu também gostava de um furo no meu tempo, mas percebia certamente a diferença entre gozar um furo e achar que era melhor ter furo que ter aula.

Nem sequer estou a discutir se as aulas de substituição são boas ou más, bem dadas ou mal dadas (se são mal dadas peçam melhores aulas e não menos aulas), o que me deixa perplexa é que os nossos miúdos ponham a fasquia tão baixa.

Estão na idade em que descobrem o debate das ideias, em que deviam estar a questionar ideias e valores para encontrarem os seus. E que melhor lugar para fazer isso do que a escola. Deviam estar a querer conhecer a história das ideias políticas, porque é que aqui o mundo é preto e ali é branco, deviam acreditar que algumas dessas ideias podem mudar o mundo - deviam querer mais e sobretudo melhores aulas e não menos, nunca menos...

Esta notícia devia deixar-nos a todos preocupados (independentemente do que achamos da ministra e das políticas do ministério) porque estes miúdos são o nosso futuro.


Eu sei que não muito de "postar" mas fiquei estarrecida...

até logo

9 Comments:

Blogger DeNunes said...

magnífico post!
partilho as tuas preocupações.

10:32 da manhã

 
Blogger Unknown said...

O problema é que começa tudo em casa.

Eu também tive furos e recebia-os com grande satisfação interior. Mas sempre tive presente a importância da escola no meu desenvolvimento.
Contudo, não deixei de me comportar como um puto normal: Baldei-me, Copiei, Desenhei nas paredes, etc.. (não posso dizer muito mais!) mas tive a sorte dos meus pais me ensinarem a distinguir as coisas e a ser responsável pelas minhas decisões.

8:39 da tarde

 
Blogger pedro vieira said...

eu cá acho que os furos também não devem gostar de ter alunos e a eles ninguém os ouve!! voz aos furos, já!! quanto à lógica do "no meu tempo" não vou na onda passadista. há muitos problemas mas também acredito que a maior parte da maralha tenha competências e saberes com que eu nem sonhava na minha altura de teenager "inconssssiente". e até adivinho uma certa instrumentalização do natural bota-abaixo juvenil por parte dos professores, que andam necessitados de aliados na guerra contra a maria joão.
nas saladas de frutas é difícil identificar as pêras mais culpadas.

9:12 da tarde

 
Blogger stôra said...

Toni, é mesmo assim. O que acontece é que as aulas de substituição são quase sempre dadas por professores de diferentes áreas ou seja,na falta do professor de Língua Portuguesa pode ser o professor de inglês ou de Educação Física dar essa aula. Pois... Mas o problema aqui é que a estrutura das aulas de substituição está mal feita pelo ministério que diz isso mesmo, qualquer professor pode dar essas aulas....
No meu tempo de estudante, nos furos iamos para a ginginha ali na Rodrigo da Fonseca ( Liceu Maria Amália), muito bom...

11:07 da manhã

 
Blogger gracekelly said...

Eu não estava a dizer que não existem problemas na forma como as aulas são dadas

é claro que existem,

mas

1 - quando os alunos pedem para não as ter (e também acredito que tenha havido instrumentalização dos alunos) estão a pôr a fasquia muito baixa.

2 - não devia ser preciso ir para a porta do ministério para melhorar a forma como as aulas de substituição são dadas

Decidir que têm que haver aulas de substituição é política ao nível nacional - sobretudo quando não se trata um furo de vez em quando. Eu dei explicações de matemática e química na Candeia durante muito tempo e posso vos dizer que eram mais os miúdos que não davam 2/3 do programa do que os que davam.

Já decidir o que é melhor em cada caso específico pode e deve ser pensado em cada escola pelo seu prórpio corpo docente e é aí que os alunos se podem mobilizar e dar sugestões (é assim na finlândia há muito tempo).

Quando eu falei de como era no meu tempo não estava a comparar a qualidade do ensino (se bem que acho que nesse aspecto tive muita sorte) mas mais a nossa consciência das responsailidades. Acho os miúdos de hoje muito mais imaturos, sinceramente.

11:42 da manhã

 
Blogger gracekelly said...

um exemplo, no liceu quando faltava o professor de francês das duas uma:

ou tinhamos aula com outro professor de francês que estivesse disponível

ou tinhamos aula com o professor de matemática, mas que nesse caso nos dava a aula de matemática que tinha preparado para nós para essa tarde e, nessa tarde ou no dia seguinte, o professor de francês usava o horário de matemática para dar a aula que tinha ficado atrasada

só muitas poucas vezes se tinha que recorrer a fazer uma ficha sem a presença do professor respectivo

e quando já estavamos quase no fim do liceu, davam-nos muitas vezes autonomia para irmos para a biblioteca estudar para os exames

e isto nunca foram decisões ministriais, apenas gestão do nosso corpo docente e conselho directivo

11:46 da manhã

 
Blogger DeNunes said...

Os portugueses são naturalmente resistentes à mudança!

A questão não está nas aulas de substituição, mas nas reacções a estas. Ora leiam lá bem o post... "Exigir não ter aulas é o triunfo da mediocridade."

11:58 da tarde

 
Blogger pedro vieira said...

concordo genericamente com ele e é um bom exercício de wishful thinking da grace mas desgraçadamente a realidade socio-escolar do país não é um imenso charles lepierre. por certo devemos exigir mais e melhor ao sistema público (hello, que é feito dos meus impostos) e aos nossos adolescentes mas para mim não são eles os maus da fita desta estória, que afinal de contas partiu de uma concentração de 300 alunos à porta do ministério, o que me tolhe a noção de representatividade. tu próprio és avesso à mudança, a História tem demonstrado a imensa superioridade do FCP e tu continuas arreigado ao Vieira, que aliás tem um bonito nome.

12:41 da tarde

 
Blogger gracekelly said...

eu também não acho que os adolescentes são os maus da fita, longe de mim.. o que eu perguntei foi o que é que nós (pais, professores, sociedade, e até os media - que destacaram a concentração de 300 à porta do ministério e mais uns quantos à porta de várias escolas) lhes estamos a ensinar?!

E tenho pena que a fasquia do charle lepierre não seja a fasquia de todos! igualdade de oportunidades!!

A razão pela qual esta notícia me deixou tão estarrecida é q já vem sendo hábito achar que tudo o que é português é mau.. mas um jovem querer menos em vez de mais e melhor parece-me quase anti natural, parece-me uma enorme falta de ânimo e de confiança em nós mesmos (e isso num jovem é ainda mais desanimador que no típico velho do restelo, averso à mudança)

4:22 da tarde

 

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