É urgente...
Até certa medida é natural que um adolescente prefira um furo a uma aula.
Aceito isso, percebo isso.
Ainda assim acho que apesar de lhes apetecer mais ficar no café à conversa com os amigos porque - que sorte! - faltou o professor de história, tenho a certeza de que a maioria, no seu intímo, sabe que ter aulas é bom (mesmo e até as aulas de substiutição) e tem sonhos e ambições para o futuro e até sabe que a educação é o principal instrumento que tem para lá chegar.
Ou pelo menos era o que eu pensava...
Como é que vão para a rua dizer não às aulas de substituição?!
Será que é por sentirem que faltam ideais pelos quais se possam manifestar?
Exigir não ter aulas é o triunfo da mediocridade. Os nossos jovens deviam exigir mais e não menos. Deviam querer lutar por um mundo mais justo, com igualdade de oportunidades - o que passa evidentemente por um um ensino público excelente.
O que é que nós lhes estamos a ensinar?! A dizer mal por dizer mal?! A dizer mal porque é o estado que faz, o governo que diz, a ministra que manda?! Devíamos ensiná-los a serem críticos, sim, mas críticos inteligentes, capazes de perceber o que é que faz falta neste mundo, o que é lhes faz falta a eles. Críticos altruístas, com vontade de ver nascer um mundo melhor, críticos com esperança de que outra maneira de fazer as coisas é possível, críticos exigentes também com eles próprios, com vontade de fazer coisas, de saber mais, de chegar mais longe...
Eu também gostava de um furo no meu tempo, mas percebia certamente a diferença entre gozar um furo e achar que era melhor ter furo que ter aula.
Nem sequer estou a discutir se as aulas de substituição são boas ou más, bem dadas ou mal dadas (se são mal dadas peçam melhores aulas e não menos aulas), o que me deixa perplexa é que os nossos miúdos ponham a fasquia tão baixa.
Estão na idade em que descobrem o debate das ideias, em que deviam estar a questionar ideias e valores para encontrarem os seus. E que melhor lugar para fazer isso do que a escola. Deviam estar a querer conhecer a história das ideias políticas, porque é que aqui o mundo é preto e ali é branco, deviam acreditar que algumas dessas ideias podem mudar o mundo - deviam querer mais e sobretudo melhores aulas e não menos, nunca menos...
Esta notícia devia deixar-nos a todos preocupados (independentemente do que achamos da ministra e das políticas do ministério) porque estes miúdos são o nosso futuro.
Eu sei que não muito de "postar" mas fiquei estarrecida...
até logo
9 Comments:
magnífico post!
partilho as tuas preocupações.
10:32 da manhã
O problema é que começa tudo em casa.
Eu também tive furos e recebia-os com grande satisfação interior. Mas sempre tive presente a importância da escola no meu desenvolvimento.
Contudo, não deixei de me comportar como um puto normal: Baldei-me, Copiei, Desenhei nas paredes, etc.. (não posso dizer muito mais!) mas tive a sorte dos meus pais me ensinarem a distinguir as coisas e a ser responsável pelas minhas decisões.
8:39 da tarde
eu cá acho que os furos também não devem gostar de ter alunos e a eles ninguém os ouve!! voz aos furos, já!! quanto à lógica do "no meu tempo" não vou na onda passadista. há muitos problemas mas também acredito que a maior parte da maralha tenha competências e saberes com que eu nem sonhava na minha altura de teenager "inconssssiente". e até adivinho uma certa instrumentalização do natural bota-abaixo juvenil por parte dos professores, que andam necessitados de aliados na guerra contra a maria joão.
nas saladas de frutas é difícil identificar as pêras mais culpadas.
9:12 da tarde
Toni, é mesmo assim. O que acontece é que as aulas de substituição são quase sempre dadas por professores de diferentes áreas ou seja,na falta do professor de Língua Portuguesa pode ser o professor de inglês ou de Educação Física dar essa aula. Pois... Mas o problema aqui é que a estrutura das aulas de substituição está mal feita pelo ministério que diz isso mesmo, qualquer professor pode dar essas aulas....
No meu tempo de estudante, nos furos iamos para a ginginha ali na Rodrigo da Fonseca ( Liceu Maria Amália), muito bom...
11:07 da manhã
Eu não estava a dizer que não existem problemas na forma como as aulas são dadas
é claro que existem,
mas
1 - quando os alunos pedem para não as ter (e também acredito que tenha havido instrumentalização dos alunos) estão a pôr a fasquia muito baixa.
2 - não devia ser preciso ir para a porta do ministério para melhorar a forma como as aulas de substituição são dadas
Decidir que têm que haver aulas de substituição é política ao nível nacional - sobretudo quando não se trata um furo de vez em quando. Eu dei explicações de matemática e química na Candeia durante muito tempo e posso vos dizer que eram mais os miúdos que não davam 2/3 do programa do que os que davam.
Já decidir o que é melhor em cada caso específico pode e deve ser pensado em cada escola pelo seu prórpio corpo docente e é aí que os alunos se podem mobilizar e dar sugestões (é assim na finlândia há muito tempo).
Quando eu falei de como era no meu tempo não estava a comparar a qualidade do ensino (se bem que acho que nesse aspecto tive muita sorte) mas mais a nossa consciência das responsailidades. Acho os miúdos de hoje muito mais imaturos, sinceramente.
11:42 da manhã
um exemplo, no liceu quando faltava o professor de francês das duas uma:
ou tinhamos aula com outro professor de francês que estivesse disponível
ou tinhamos aula com o professor de matemática, mas que nesse caso nos dava a aula de matemática que tinha preparado para nós para essa tarde e, nessa tarde ou no dia seguinte, o professor de francês usava o horário de matemática para dar a aula que tinha ficado atrasada
só muitas poucas vezes se tinha que recorrer a fazer uma ficha sem a presença do professor respectivo
e quando já estavamos quase no fim do liceu, davam-nos muitas vezes autonomia para irmos para a biblioteca estudar para os exames
e isto nunca foram decisões ministriais, apenas gestão do nosso corpo docente e conselho directivo
11:46 da manhã
Os portugueses são naturalmente resistentes à mudança!
A questão não está nas aulas de substituição, mas nas reacções a estas. Ora leiam lá bem o post... "Exigir não ter aulas é o triunfo da mediocridade."
11:58 da tarde
concordo genericamente com ele e é um bom exercício de wishful thinking da grace mas desgraçadamente a realidade socio-escolar do país não é um imenso charles lepierre. por certo devemos exigir mais e melhor ao sistema público (hello, que é feito dos meus impostos) e aos nossos adolescentes mas para mim não são eles os maus da fita desta estória, que afinal de contas partiu de uma concentração de 300 alunos à porta do ministério, o que me tolhe a noção de representatividade. tu próprio és avesso à mudança, a História tem demonstrado a imensa superioridade do FCP e tu continuas arreigado ao Vieira, que aliás tem um bonito nome.
12:41 da tarde
eu também não acho que os adolescentes são os maus da fita, longe de mim.. o que eu perguntei foi o que é que nós (pais, professores, sociedade, e até os media - que destacaram a concentração de 300 à porta do ministério e mais uns quantos à porta de várias escolas) lhes estamos a ensinar?!
E tenho pena que a fasquia do charle lepierre não seja a fasquia de todos! igualdade de oportunidades!!
A razão pela qual esta notícia me deixou tão estarrecida é q já vem sendo hábito achar que tudo o que é português é mau.. mas um jovem querer menos em vez de mais e melhor parece-me quase anti natural, parece-me uma enorme falta de ânimo e de confiança em nós mesmos (e isso num jovem é ainda mais desanimador que no típico velho do restelo, averso à mudança)
4:22 da tarde
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