Blogue de gente de verbo fácil e língua afiada como uma espada de hara-kiri. Alimentado por: Conde, DeNunes, Dulcineia, Edgarganta, Gaja do Teatro, Goretti, Grace Kelly, Jaimemorto, Mousezinger, Romero, Stôra e Toni Ciganita

quarta-feira, outubro 19, 2005

da bd (texto a ser revisto.. desculpem o entusiasmo)

A bd é, de facto, um universo que às vezes é muito mal tratado.
E apesar de ser considerada a 9ª arte..


A respeito do novo Astérix, concordo com o jaimemorto, deviam reformar o senhor Uderzo.
Desde a morte de Goscinny que se nota a descrescente qualidade.
Mas principalmente nos 3 últimos álbuns, O do tapete voador, La traviata, e agora este.

Se há coisa que dá credibilidade a qualquer bd, é o aspecto da coerência narrativa. Por isso é, à prova de bala, toda a saga de Corto Maltese, que se chega a duvidar se tal personagem existiu mesmo ou não.

Neste aspecto Uderzo já tinha falhado redondamente, quando, na La Traviata, resolveu, para bens comerciais que Asterix e Obélix faziam anos no mesmo dia. Esqueceu-se do álbum Obélix e Companhia onde, só Obélix fazia anos?
Enfim.

Das traduções, há casos e casos.

A editora Meriberica-Liber, mudou o local de trabalho do nosso amigo Gaston, de um álbum para outro, da revista Spirou (onde aliás, os personagens trabalham e apareceram na revista homónina, real) para a empresa Meriberica.
Afianbranço, dir-se-ia.

(Nota negativa também para o facto dos álbuns nunca numerados.. assim, apesar de existirem 19 álbuns Gaston originais, em português existem apenas 11..)

Acho que se traduz bem o pirata Barbe Rouge para Barba Ruiva, e alguns personagens (felizmente) têm nomes intraduzíveis como Michel Vaillant, Spirou, Astérix, Corto Maltese, Largo Winch, só para citar alguns.

No caso Português, temos vários exemplos de traduções e incongueências não muito felizes:
a amiga jornalista de Spirou e Fantásio começou por chamar-se Serafina para passar para Aurora, algures;
no Tintim, o professor Tournesol chama-se qualquer coisa horrível, tipo Andorinha, ou Chapelinha ou lá o que é;

Imaginem o que seria traduzir o Tenente Blueberry para Tenente Amora Azul, Corto Maltese para Corto Maltês, os Peanuts com o seu evidente Charlie Brown, para os Amendoins de Carlos Castanho, Gaston Lagaffe para Gastão Agafe, e, já agora, Lucky Luke para Lucas Sortudo, o vaqueiro mais rápido que a sua sombra.

É por essas e por outras que compro na lingua original.

Suponho que o problema será também (no contexto narrativo cronológico) a mudança de desenhadores, e a sua vontade de impôr o seu traço pessoal numa bd clássica.
No caso de Spirou, que começou nos anos 40, por Jije e depois de Franquim, verificou-se que Fournier ainda conseguiu dar novas aventuras lógicas, mas já Tome e Janry, deram a toda a série um cunho demasiado pessoal, e o desenho foi ficando mais moderno, e as aventuras menos Sprirousianas e mais infantis (note-se que o álbum destes autores "A Máquina que sonha" é, provavelmente dos melhores álbuns que já li de bd. Mas será uma aventura de Spirou? Não me parece. Podia ser com outros personagens completamente diferentes.)

Blake e Mortimer (Preto e Mortimão em português?) também seguiram outros desenhadores. O problema aqui é que há duas equipas, a fazer álbuns separados. Qual deles o digno successor? A batalha ainda agora começou.
Mas traz um problema.. a precisão: da lógica de EP Jacobs, e porque as aventuras do Escocês e do Britanico apareciam primeiro em revistas de tiragem semanal, é muito engraçado verificar que o último quadrado das páginas impares é sempre um suspanse. Para deixar água na boca ao leitor, que só na semana seguinte iria saber o que ia acontecer.
Agora, e com duas equipas a concorrerem, a lógica é a de uma aventura ser em dois álbuns, e o suspanse ser de álbum para álbum. Ora uma vez que álbuns novos só praí de dois em dois anos, é um suspance um pouco grande demais.

Como leitor, e cada vez que vejo sair um novo álbum de bd, principalmente da chamada clássica, tenho um impulso doentio de o comprar, mesmo sabendo que vai ser demasiado mau para ser verdade.
Este Astérix, péssimo com toda a certeza, em desenho e em argumento, vai estar na prateleira da minha estante até ao final da semana.

4 Comments:

Blogger pedro vieira said...

o pesadelo das traduções tem muito que se lhe diga. Já que falaste no Gaston, admitindo a inverosímil hipótese de ele ter o nome traduzido para Gastão Agafe, posso dizer-te que a Meribérica até fez progressos - tenho em casa da minha mãe dois ou três livros do Gaston que deverão fazer parte do primeiro lote de obras deste personagem lançadas em Portugal e o nosso trapalhão incorrigível chama-se....Gastão Dabronca!!! Se não me falha a memória, o colega dele que se chama Dupuis tem o bonito nome de "Olhinhos"...e por aí fora. Uma vez que se trata de edições anteriores à tutela da Meribérica, a editora para a qual os personagens trabalham é a Arcádia, designação aliás dos editores portugueses da época. Enfim, é todo um mundo aos pontapés.

12:04 da manhã

 
Blogger Ricardo Machado said...

Este teu post só vem confirmar a minha tristeza pelas traduções. Para além da falta do bom senso, são tardias ou despropositadas. As aventuras do Asterisco (antes Asterix) e do Obelisco (Obelix), são, para mim e muitos outros, objectos gráficos e literários marcantes. A maçã que o Asterisco corta na "Grande Travessia" nunca me sairá da cabeça até ao final dos meus dias. Trocar os nomes das personagens seria o mesmo que redesenhar os antigos albuns, trocando a maçã por um ananás.

10:44 da manhã

 
Blogger Unknown said...

Ao menos a "Mosca" de Lewis Trondheim (para mim, também uma obra prima) não sofre deste mal das traduções. Não se pode traduzir algo que não existe! O texto, neste caso.

Conde, parabéns pelo texto! Devias escrever sobre BD algures. Apeteceu-me ir comprar BD, agora!

Se ao menos eu percebesse o "francíu"...

e viva o Gaston!

12:48 da tarde

 
Blogger Joana said...

Conde ou Prunelle (para mim), acho que devias deixar-te de conversas, e não perder mais tempo, para começar a escrever...para ti, para a Maria Clara, para nós, amigos, e para o público em geral ou uma fatia muito particular: as crianças.

Obrigada pelo post. Vi logo que era teu! ;)

9:15 da tarde

 

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