Blogue de gente de verbo fácil e língua afiada como uma espada de hara-kiri. Alimentado por: Conde, DeNunes, Dulcineia, Edgarganta, Gaja do Teatro, Goretti, Grace Kelly, Jaimemorto, Mousezinger, Romero, Stôra e Toni Ciganita

terça-feira, outubro 18, 2005

Traducentourix


Ansioso, paguei. No saco de plástico amarelo torrado levava mais um livro daquelas personagens que me acompanham desde a infância e responsáveis pela minha obsessão em viajar no tempo. Ao chegar ao aconchego do lar descalcei-me, sentei-me no sofá e abri mais uma aventura dos famosos gauleses, resistentes ao tanto terrível quanto idiota exército romano. Sempre assim foi sempre será. Dado adquirido. Fechado. Desfolho a primeira página e saúda-me um selo de exclusividade desta primeira edição do último volume. Porreiro! edição numerada e tudo. Isto promete! Mais uma página voltada e a mair surpresa surge-me perante os meus olhos incrédulos e chocados. As personagens não eram as mesmas!! Esfreguei os olhos. Não reconhecia aqueles nomes na tradicional galeria de figuras de tranças e capacetes. Coloquei soro na minha vista e olhei para a parede branca da sala na esperança de tudo não passar de um truque do meu cérebro, uma partida de mau gosto que eu me pregava a mim próprio. Não. Era verdade. Os nomes estavam diferentes mas as personagens eram as mesmas. Ao fim de 25 anos os portugueses resolveram traduzir os nomes daquelas figuras, pensando que estavam a corrigir uma lacuna da literatura. O que fizeram foi mudar a personalidade de cada um dos habitantes daquele microcosmo, alterar aquilo que nunca se deve alterar: a identificação pessoal. O fenótipo textual.
O que vi foi o seguinte:
O chefe Abraracourcix (ou Abraracurcix) passou a Matasétix;
O bardo Assurancetourix (ou Assuranceturix) passou a Cacofonix;
O peixeiro Ordralfabetix passou a Ordemalfabétix;
A esposa do chefe(agora Matasétix) passou a Pintinha;

Asterix e Obelix tiveram sorte nos seus nomes. Por acaso são coincidentes com o português. Mas poderiamos aprofundar para Asterixo e Óbelixo, para não restarem dúvidas!
Os campos romanos mudaram igualmente de nome, sabe-se lá se por um decreto de Júlio César: Aquarium permaneceu igual, Babaorum mudou para Babácomrum(!!!), Laudanum permaneceu, Petibonum mudou para Factórum.

A isto tudo acrescento uns extra-terrestres que desceram de um planeta distante, aterraram na aldeia gaulesa e tornaram o argumento totalmente infantil, sem leituras paralelas ou sub-textos. Degradante, mas mesmo assim vou até ao fim!

2 Comments:

Blogger Ricardo Machado said...

Ó JAIMEMORTO, OLHA OS SPAMERS!!

12:32 da tarde

 
Blogger pedro vieira said...

o génio de Uderzo vai-se afundando com a idade e com a falta de comparência do falecido Goscinny. Já tinha lido uma crítica muito negativa do João Miguel Tavares no DN e pelo teu relato a catástrofe confirma-se. Talzes o senhor Uderzo devesse ser reformado compulsivamente, não sei. Dos álbuns a solo só gostei verdadeiramente d'"O Grande Fosso" e da "Odisseia de Astérix". Agora a derrapagem é evidente, com a ajuda da ASA que, depois de açambarcar o catálogo da Meribérica, já nem respeita os nomes dos personagens. Uma tristeza.

3:14 da tarde

 

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